Top

Vocês tem percebido esse movimento mais fluido e orgânico na decoração e arquitetura de interiores? Com a Casa Cor, Design Weekend e Fashion Week em alta, falar de tendências se faz quase uma obrigação por aqui, não é mesmo? 

E quero jogar um spotlight para uma tendência que temos observado faz um tempo, e que se confirmou com essa última edição da Casa Cor: as curvas.

Sim, elas voltaram e com muita força e personalidade. Formas orgânicas e fluidas tem ditado boa parte dos desenhos de móveis, ambientes e espaços.

A pandemia nos fez olhar para dentro (de nós mesmos e de nossas casas), e nos fez perceber que precisamos de mais leveza para enfrentar a rotina caótica que nos cerca. Já nos basta a ortogonalidade dura das cidades em que vivemos. A rigidez e pressão dos nossos trabalhos e ofícios. Queremos paz ao chegar em casa, e nada melhor do que buscar inspirações na natureza para essa leveza.

Não só nos tons neutros e terrosos, que também estão em alta, mas estamos nos inspirando na forma que a natureza se organiza para viver. De forma orgânica, mais solta, e não tão quadradinha. Isso traz sensação de liberdade, e desconecta do desenho da maioria dos espaços de trabalho que estamos acostumados. Cada vez mais buscamos refúgio em nosso lar, e essa busca extravasou o inconsciente e está se materializando de forma muito bela.

Eu que sempre fui bem simétrica e de certa forma fã dos quadradinhos, tenho amado me permitir ousar mais nesse sentido. Acompanha o raciocínio e vem ver algumas inspirações que eu – e nós do escritório – amamos na Casa Cor SP.  O tema da mostra esse ano é Casa Original, e selecionei alguns projetos buscam solucionar os problemas que identificamos nos últimos meses e tiraram lições da crise de saúde apontando na direção do conforto e originalidade:

 

Casa Olaria, Nildo José | MCA Estúdio

 

Casa Olaria, Nildo José | MCA Estúdio

 

Nildo José com sua Casa Olaria NJ+ foi um dos espaços que mais amamos. Ele faz uma homenagem à cerâmica, que acompanha a história das civilizações desde a descoberta do fogo, e traz rasgos orgânicos nas paredes que abrigam dezenas de peças cerâmicas de artistas brasileiros. O quarto em volume cilíndrico remete à casa-templo, que nos conecta ao que é essencial. O movimento do mobiliário curvo, e das aberturas orgânicas amarram essa sensação. Das peças artesanais ao aos tijolos, telhas e elementos decorativos, a beleza do feito a mão e do imperfeito é valorizada no ambiente e evidenciada nos tecidos, tapetes, texturas, piso e obras de arte. 

 

Casa Alma, Melina Romano | MCA Estúdio

 

Casa Alma, Melina Romano | MCA Estúdio

No momento em que questionamos o que nos é essencial, o Studio Melina Romano defende que “o mais importante é invisível aos olhos” e apresenta uma casa que provoca as sensações para além da estética. Texturas, aconchego, cores claras e minimalismo traduzem pilares do projeto: slowness, well-being e soulful. Ao visitar o espaço de layout fluido, é possível participar de uma experiência personalizada que tangibiliza as sensações humanas, e concretiza nossos sentimentos em relação às buscas recentes por significado e refúgio no morar.

Mesmo em ambientes com estética mais tradicionais, que estamos mais acostumados, ou que representam a parcela menos ousada – ou disposta – a apostar nessa fluidez vemos a presença das curvas minimamente nos mobiliários escolhidos e na quebra das quinas tão duras. Ilhas perdem os 90 e ganham quinas arredondadas, armários também possuem shakes mais leves. E podemos observar a tendência de forma menos marcante, mas presente de qualquer forma.

Loft do Colecionador, Alexandre Gedeon e Hugo Schwartz

O ambiente de Alexandre Gedeon e Hugo Schwartz, o Loft do Colecionador mostra isso nas poltronas e ilhas.  

Espaço Kairós, Érica Salguero

Já o espaço Kairós de Érica Salguero traz o arredondado no arremate do rack e prova como essa estética pode agradar a todos os gostos.

E a tendência não para por aí. Observem a linha de raciocínio: Café Petra, do Weiss Arquitetura e seus sofás curvos. Caio Bandeira e Tiago Martins, no ambiente Sopro Orgânico e sua banheira curva de tirar o fôlego. 

Casa Petra, Weiss Arquitetura

 

O Sopro Organico, Caio Bandeira e Renato Navarro

Outro ambiente que fez nosso coração mais feliz e foi como um abraço na alma foi o ambiente Aconchegos, da Très Arquitetura. A escolha assertiva e equilibrada dos elementos naturais aliados às cores neutras resultou em um ambiente acolhedor e confortável.  As curvas entram delicadas e suaves, em pontos não tão óbvios: na base da ilha, no orgânico dos pendentes, na textura dos revestimentos ao fundo, no formato da mesa de jantar. Tudo isso representa o inconsciente coletivo e a necessidade de acalmar e acolher.

 

Aconchegos, Très Arquitetura | MCA Estudio

A Casa Original promove uma série de reflexões em quem visita, sobretudo pelo evidente desejo de retorno às origens, de buscar na ancestralidade e na simplicidade o necessário equilíbrio entre o passado e o futuro. E traz outra série de confirmações que já rondavam nossa mente.

A falta de divisórias mais sólidas, a fluidez dos espaços, as curvas e formas organica são todos frutos dos aprendizados da pandemia: tudo está à vista e os ambientes se comunicam, reduzindo aquela sensação de uma leve claustrofobia. 

Esses elementos são os nossos –próximosatuais GO TO. São as escolhas ideais para atingir esses objetivos e adjetivos que estamos prospectando para nossos lares. E na dúvida, se você ainda assim achar que usar formas e elementos curvos é difícil, volte e observe outra vez as imagens. Perceba que é uma escolha certeira, como um vestido pretinho básico. Não tem erro.